… Acabei de ler uma crônica de um amigo. Tem o título de Desencontro e, foi um primo e amigo que me enviou, sabe que gosto destas coisas. Se bem que o título desencontro, não tinha muito a ver com o conteúdo, mas como uma coisa puxa outra, fiquei com aquele risinho de quem havia lembrado algo… hummm…  Digamos, interessante, um desencontro.

Apareceu uma viagem para São Luís do Maranhão. Antigamente este lugar tinha uma atração para mim, mas desta vez era apenas uma viagem cansativa e, cinco dias dando aula em pé e falando até a língua ficar seca igual língua de papagaio, convenhamos não poderia ser uma coisa das muito agradáveis. Enfim, são ossos do oficio e adoro estar trabalhando. Sério, sem demagogia, gosto mesmo de trabalhar – uma diversão -, e tem gente que não acredita.

Domingo a noite já estava no aeroporto, pois o curso começava cedo na segunda (depois eu descobri que era cedo mesmo… mais à frente eu conto). Viagem em  céu de brigadeiro. Ainda estava me curando da gastrite e fiquei lambendo os beiços quando um suco de cevada passou na minha frente, quase puxava o carrinho quando a aeromoça se foi. Contentei-me com água. Tudo bem! Admito que sou obstinado quando meto uma coisa na cabeça e desta vez eu estava decidido a curar a tal da gastrite.

Em São Luís, quando cheguei, havia um cara com aquelas plaquetas com meu nome. Identifiquei-me, e rumamos para o hotel. Estava lendo a Divina Comédia e fazendo algumas considerações na presumível influência deste livro, como “esclarecedor” do que seria o inferno, o purgatório e o paraíso nas nossas cabeças de hoje, para quem acredita, claro.

No trajeto para o hotel, um calor dos diabos do lado de fora do carro. Dentro, um frescor de inverno. Vendo o casario no centro da cidade, pensei no que teria sido a São Luís na época em que Aluízio Azevedo escreveu O Mulato, dando início ao que seria chamado de naturalismo. Um romance digno de ser lido e, deixou uma impressão do que seria a cidade no século 19  . Cheguei no hotel, um que eu não conhecia; era novo e bastante arrumadinho. O motorista disse que passaria às sete horas da manhã e me levaria até a empresa.

A noite foi tranquila. Às seis horas, já estava de pé (mentira, estava sentado na beirada da cama!), e tomei um banho com água quente; que mania! Mas não deu certo estava quente demais. Desci pro café da manhã; o cara do carro já estava à espera.
Lá vou eu, barriga satisfeita, mais uma vez o frescor do ar-condicionado do carro. O primeiro dia de curso é o melhor dia, depois do último. O som das palavras me é bastante familiar, pois nasci e cresci no Piauí, então, estava em casa. No final do dia, fui orientado a pegar o ônibus que passava em frente ao hotel e, nos outros dias devia pegar este ônibus para ir à empresa.

No percurso até o ônibus, estava com o radar ligado; é impressionante como uma mulher bonita chama a atenção no meio de uma multidão. Uma que passava ao largo ligou algum sensor que temos para essas horas; não sei o que diabos é…Bom, tinha que passar pela tal da catraca, que não leu meu crachá de primeira. Foi de segunda mesmo. Sumiu. Nem deixou recado. Soltei uns resmungos comigo mesmo e fui em frente. Procurei pelo tal do ônibus, achei e logo entrei procurando uma poltrona vazia, pois o ônibus já estava quase cheio. Advinha onde tinha uma vazia? Ao lado dela! Passei reto, sentei-me numa outra logo atrás. Até parecia que eram as únicas. Caro leitor, leitora, não me tenha mal; sei que ia pensar outra coisa, mas fiz de propósito. Mas calma, “num se avexe”.

O ônibus seguiu em frente… “Pôrzinho” do sol meio mixuruca… Não acredito, ela olhou para trás! Curiosidade, instinto, casualidade mesmo, aqueles que nós homens temos, quando tem uma gostosa na poltrona de trás; só para conferir. Talvez não tenha sido o caso. Mas eu queria que fosse. Entre o ficar absorto em ideias absurdas e continuar vendo o pôr-do-sol, preferi ficar vendo o pôr-do-sol; entrecortado com a tal das ideias absurdas…

Ela desceu primeiro. Usava uma calça jeans e uma blusa com tons de azuis, acho que umas flores… Bom, sei lá. Aonde meus lindos olhinhos foram? Conferir a robustez muscular da moça nas partes glúteas. Bom…. Boa. O que são os adjetivos! Era magra, alta, até mais que eu. Se bem que usava um salto, e, eu sentado não pude tirar as medidas no “olhômetro”, mas era alta sim. Epa, o hotel, tenho que descer! Nem precisa comentar o que pensei de onde ela desceu até ali. Muitas, muitas bobagens. Talvez eu me anime em contá-las mais à frente, por enquanto “se aquete!”.

Saí para dar uma corridinha, na Lagoa da Jansen e, conjeturando…. Esqueci de falar que tenho dois amigos, e adoro ouvir os dois conversarem, ainda não tem nomes: as duas partes do meu cérebro.

– Ora, ela veio no mesmo ônibus que eu…

– Ora pois, veio.

– Foi coincidência ou ela deve sempre pegar o mesmo ônibus que eu?

– Coincidência…

– Pô cara, ajuda, hein!

– A chance é grande.

– …de “rolar” algo com ela?

– Não, d’ela pegar o mesmo ônibus…

Estou com sede, em São Luís o calor é brabo. Na corrida dando a volta na lagoa, chego a um ponto que pego um vento contra. Amanhã corro pelo outro lado; pego vento a favor.

– Esse cara tem a mania de interromper a gente…

– Terrível.- Um cara bom.

– É, bom. Fiz uns alongamentos e voltei pro hotel.

Acordei as cinco e meia – não falei que era cedo! – e desci pro café. Fui informado que o trajeto do ônibus começava pelo hotel…  as seis e quinze, ele passava. Uma volta na cidade inteira… ontem nem percebi o quanto era longo o trajeto. Ela! Tinha esquecido! Tentei inutilmente procurar algo que lembrasse onde ela desceu ontem. Inútil.Eu era só ansiedade. Um dos dois entrou em ação:

– Olha a gastrite.

O outro não podia ficar calado…

– Cara teimoso.

O ônibus parava… entrava umas pessoas… parava o ônibus . Estrategicamente, eu colocara minha mochila na poltrona ao lado. O ônibus continuava enchendo. Uns sujeitos, passavam e olhavam minha mochila sentada confortavelmente na poltrona.
Eu queria  mesmo era que ela aparecesse logo. Entrasse e viesse sentar-se ao meu lado, por que não?  Ela entrou, e sentou-se numa poltrona um pouco à frente. Minha alma foi às lágrimas. Sabe aquela sensação de frustração? Paciência. Ela desceu primeiro. Gravei o lugar onde ela pegou o ônibus.

Um dia normal de curso. Cansativo. Tinha ainda fresco na memória a lembrança de tê-la visto no almoço. Estava sem  os óculos. Um sorriso enorme para qualquer frase ouvida. Ajeitava compulsivamente os cabelos. Se bem me lembro, Ovídio, em “A arte de Amar”, menciona essa artimanha involuntária da mulher, ajeitar os cabelos, o sorriso.
Estava a caminho da tal da catraca. Olhava para todos os cantos. O ônibus, o ônibus! Vou entrar primeiro e ver o que acontece. Omiti que houve uns olhares meio “especuladores” no almoço. Constatei que havia entrado primeiro no ônibus.  Procurei duas poltronas vazias. Encontrei e sentei numa delas e, coloquei a provençal mochila na outra poltrona. Tinha que funcionar desta vez, algo me dizia isso. Ela apontou lá na frente. Veio olhando para todos os lados. Viu-me… o coração, quase a fibrilar. Mas, ela veio e sentou-se… ao meu lado. Retirara estrategicamente a tal da mochila, antes que ela percebesse. A glória. Uma conquista orgulhosa. Nenhuma palavra. Impressionante. Desceu primeiro como no dia anterior.

Outro dia. Como diria meu pai, “o mundo deu uma virola”, tudo será diferente de ontem. O ônibus já andava havia um tempinho. Na apreensão de ontem, terminei por não marcar o lugar que ela entrara, mas hoje estava ligado. Mesma estratégia. Ela apareceu lá na frente… mochilinha venha cá. Viu-me e sentou-se ao meu lado. Agora já me sentia o padre pronto pra confissão. Sou meio atrevido.- Bom dia, disse ela.- Bom dia.Conversamos amenidades do tipo, qual setor trabalha, que estava dando um curso… ela disse ser estagiária de Assistência Social. O sorriso era franco, doce, farto, espontâneo – venham a mim os adjetivos! Um rosto pueril. Sabe o que é um rosto pueril? Algumas espinhas protuberantes, não muitas. Uma indiscrição, lá vai.- Então, estagiária…- Sim, sou da ilha mesmo.- Prazer, Leocádio, do Rio.- O Rio está terrível; veem-se coisas horríveis na televisão.- A mídia aumenta e deturpa.Não sei por onde começou, mas logo eu estava falando do período medieval, cruzadas, papas, ordens militares, Lucrécia Bórgia… Ela de Drummond. Mais sensata.

“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,  a que se deu o nome deano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-o funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.  Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante vai ser diferente”.

Os poemas me trazem uma seriedade. É um “troço” difícil de eu gostar. Impressões minhas. Já fiz algumas incursões nos poemas, mas, confesso, a coisa pra mim é braba; cantos, então… Há anos comprei Ilíadas e Odisseia de Homero, só para fazer consultas durante uma leitura de A República, de Platão, que faz referência exclusiva a essa obra. Acho que algum dia terei subsídios literários para ler Homero.

A “menina” não era uma menina. Já empinava o nariz, e falava com autoridade de alguns clássicos, com comentários precisos. Diabinha…Tenho hábito antigo da leitura e, não foi difícil a conversação; acho que isso foi a “cola”  da reciprocidade.
– Rapaz bom…

– Bom rapaz.

– Ele aprende…

– É novo ainda.

Vamos descer. Ela primeiro, as saias soltas, semitransparentes, com várias camadas… dava para ver as formas, bem magra e alta mesmo; com salto. Seios pequenos. Neste momento, os instintos atávicos afloram. Bobagens, será que não consigo pensar em outra coisa? Descemos ligados numa conversa entrecortada. Sabe, aquelas quando acaba o assunto e não nos vem outro à tona? Nestas horas você está à beira de ser um chato, se já não está sendo.

– Na saída, continuamos a conversa.

– Certamente.

Eita, que esse dia foi difícil. Encontrei-a no almoço, mas não sentamos juntos, trocamos umas infinidades de olhares e sorrisos “amarelos”. Na saída, ela havia chegado primeiro ao ônibus; quando entrei, ao seu lado, uma poltrona vazia. Fui recebido na entrada com um sorriso convidativo. Sentei-me e falamos do dia escaldante. Durante a viagem de volta, ela falou mais de Drummond, Itabira. Terminou por confessar que tinha um “caso” ainda não resolvido por lá. E a prosa veio animada.
Outro dia e, “O mundo deu uma virola”. A viagem de ida foi no automático; parece que o ônibus já conspirava. E a volta pareceu repetição do dia anterior; exceto pela aproximação natural que havia começado.

Nos últimos dias vinha gostando das corridinhas ao redor da lagoa e observei que tinha uns barzinhos de aparência agradável, música ao vivo, muita gente bacana e um cheiro fétido da lagoa invadindo as narinas quando dava um “vento contra”. Na quinta-feira a noite, voltei a lagoa para conferir de perto os barzinhos. Parei em frente a um que tinha um nome bem decisivo: “Por Acaso”. Pensei. Amanhã sexta-feira, que invento para convidá-la a vir aqui. Fui caminhando de volta pro hotel e, o cérebro rodando a mil. Quantas ideias absurdas, algumas, inexequíveis. Restou uma, – a primeira que pensei – que parecia salutar.

Perguntar a alguém se gosta de chopp, não magoa. Já havia bastante entrosamento para arriscar uma pergunta dessas, sem sair chamuscado. Não sei porque, não parei de pensar nisso.
Pela manhã, sexta-feira, último dia do curso – o melhor dia, lembram? -, estava animado. Dia de ataque. Só tinha hoje. O coração parece que batia descompassado – um mês depois, descobri ser extra sístole, uma batida extra do coração, eu tinha isso e não sabia – e, a pressão já me fervia as orelhas. Caprichei no gel para cabelo – tenho pelo fino – e coloquei os óculos escuros. Tem que ser hoje, “diacho”.

Ela entrou toda “caprichada”, percebia-se. Sentou-se ao meu lado – nunca a minha bolsa teve um papel tão preponderante – muito cheirosa; cabelos ainda úmidos, seguros por um arco e um belo sorriso de chegada.- Bom dia.- Muito bom diaEstava hipnotizado, não pela beleza, mas pela “menina”, pelo sorriso, pelo som da voz, o sotaque. Contou-me um pouco de São Luís, contou a história de Ana Jansen, da qual a lagoa herdara o nome; sábado era seu dia preferido de ir a praia com amigas a ficar “tricotando” amenidades… tomava umas cervejinhas de leve…Epa, cervejinhas? Essas palavras seriam minhas! Recuperei a consciência, arrumei as palavras, e…

– Você gosta de cerveja?

– Ora moço, gosto!

A conversa já tomava um rumo descontraído. O “ora moço” saiu num tom de troça.

– … é que ontem estive vendo uns barzinhos na lagoa e pareceram-me bastante agradáveis… música ao vivo…

– Sim, conheço. Tem um chamado “Por Acaso”.

Espera um pouco. Leitor, leitora: vocês não estão achando muita sorte de uma vez só?

– Sério? Ontem estive parado em frente e achei um lugar “manero”  .

– Tem também um restaurante japonês…

– Gosto de, na sexta-feira depois do trabalho, tomar “uns chopes”, mas aqui vai ser complicado,… detesto tomar chopp sozinho.

– Ué, posso ir lá com você hoje…

– …?

Leitores, ainda estávamos no ônibus e você deve ter percebido a minha ansiedade com relação ao assunto… havia passado horas em lamurias, desejos, lamentações, apreensões, … e assim, fácil, fácil!Cometeria agora um erro. Depois me arrependeria do excesso de confiança.- Então combinamos na volta, hoje a tarde.- Tudo bem.E saímos caminhando e trocando amenidades…
O dia, além de ser o melhor – último dia de curso – passou correndo. O chopp tradicional ao final de uma semana de curso, foi deixado de lado. Dei umas desculpas que nem bêbado acreditaria. Mas, a alegria, que até agora eu não saberia de quê, nem porquê, me impeliu a cometer indiscrições. Comentei com a turma, que iria sair com uma pessoa que tinha conhecido no ônibus. Sairíamos para tomar algo e jantar. A turma caiu em risadas. Pudera. No almoço um dos que faziam o curso comigo, perguntou-me se ela estava no refeitório.

– Quem é ela, Leocádio?

– Deixa-me dar uma olhada…

Ela já estava a mirar os olhos para mim. Um sorriso. O danado daquele sorriso…Fiquei um pouco desconcertado, pois fui inquirido novamente pelo sujeito.

– Tá aí?- Depois te mostro.Falei isso disfarçando. Todo mundo sabe como é esta situação.Sentamos.

– Ela está naquela mesa atrás daquela coluna – disse apontando com os olhos.

– Qual delas?Os maranhenses têm um hábito curioso de apontar as coisas, lugares e pessoas, usando os beiços.

– Aquela mais à esquerda.- Aquela de óculos?

– Ela.

– Com aquela cara cheia de espinhas?

– Não exagera… isso lhe dá um ar de criança…

– Que?!

– Sério!

– E aqueles dentões?

– Ela apenas tem os lábios grandes…

– Tá de brincadeira!

Com os dias, a gente sempre “pega” um pouco de intimidade com as pessoas que fazem o curso com a gente, mesmo por que deixo as pessoas bem a vontade. Mas esse sujeito iria ser a salvação. Ele continuou.

– Cara, a mulher é um osso!

– Sou meio chegado a osso.

– Você é uma figura exótica…
O resto da tarde, foi só alegria. Havia chegado a hora fatídica. Na saída, atrasei-me um pouco, pois tinha que devolver o crachá. Fui quase correndo a procura do ônibus. Na cabeça, a certeza de que ela estaria sentada lá no fundo do ônibus; esperando. Obviamente, qualquer pessoa, na minha situação, se sentiria assim, ansioso até as unhas do pé. Entrei no ônibus, fiz a varredura com os olhos. Ela não estava! Não acreditava no que não estava vendo! Cheguei ao fim do ônibus e, nada. Olhei para trás para ver se ela não iria entrando agora. Nada. Sentei-me, não encontrei duas poltronas juntas vazias. Fiquei em desespero. Eu não havia combinado de fato o encontro hoje a noite. Iríamos confirmar e acertar os detalhes hoje na volta! O motorista deu aquela acelerada no ônibus característica de quem está com pressa. E ela?O motorista fechou a porta. E ela? Que aconteceu? Fiquei olhando para fora, nas pessoas que chegavam correndo, ouvi o barulho do ar comprimido da porta abrindo-se, alguém havia pedido para embarcar. É ela! Não. Era um sujeito que entrava procurando uma poltrona vazia. O ônibus saiu sem ela. Inacreditável. Que coisa desagradável, caramba!

A viagem de volta, eu estava em “looping” com a mesma pergunta: O que aconteceu? Será que ela pegou uma carona? Perdeu mesmo o ônibus, pois se atrasara no trabalho?Trabalho extra, numa sexta-feira, maldade! Mas renitente pergunta, persistia: O que aconteceu? Nesses entrementes, já estava no hotel. Subi ao quarto e sai para correr. Os dois estavam ajudando bastante, confabulando…

– Que coisa mais esquisita…

– Estranho.

– Se ela atrasou, o que é mais provável…

– … e como sabe o hotel e o nome dele, irá ligar…

– … basta procurar na lista telefônica.

Certifiquei-me, de quantos Leocádios estavam hospedados.- Somente o senhor.Disse-me o recepcionista. Menos mal; ficava mais fácil identificar. Falei pro recepcionista que, se alguém ligasse a minha procura, dissesse que eu voltaria logo. Minhas esperanças não morriam. Quando voltasse, iria ter um recado dela.

– Mas é óbvio…

– Lógica pura… de fundo de quintal.

– Tínhamos que pensar em outra coisa…

– Mas… o que aconteceu?

Voltei pro hotel e fui direto ao recepcionista.

– Algum recado?

– Não, nenhum.

– Nada?

– Vou verificar novamente.

Olhou dentro dos escaninhos, mas…

– Não tem realmente nenhum recado pro senhor.

– ‘brigado.

– Boa-noite senhor.

– Boa-noite.

Eu? A desilusão em pessoa. Devia ter acertado tudo na ida, aproveitando o embalo da conversa… Não, eu estava muito confiante, pareceria afobação. Depois do banho, pensei numa última possibilidade. Havíamos “quase” combinado o lugar, ela poderia aparecer por lá. Subi e tomei um banho, quando dei por mim, já estava descendo o elevador. Peguei um táxi e rumei para o tal do barzinho.Muita gente bonita sentada e conversando, mas quase todo mundo já “arrumado”. Dei uma olhadela, procurando um lugar para sentar e procurando por ela; mais procurando por ela. Não estava ali… mas poderia aparecer. Se ela quisesse reencontrar-me, só seria possível ali. Fiquei um pouco em pé esperando que uma mesa desocupasse.-

Uma mesa para quanto senhor.

– Para dois.

Perceberam meu excesso de confiança? Ela iria aparecer. As horas começaram a correr. Uma musiquinha gostosa era tocada ao violão, por um sujeito “rastafári”; mas não era “reggae”. Já estava começando a convencer-me, de que ela não apareceria mesmo. Ficou com medo? Mas de quê? Não me pareceu isso. Algo havia acontecido. Mas o quê?
Ela não vem mais, já é meia-noite. Vencido e sem lógica ou glória. Convenhamos, já que ela não aparece, vou ficar olhando a “paisagem”. Casais conversando. Uma brisa fétida vindo da lagoa, era recorrente; já havia me acostumado. Melhor dizendo, meu nariz havia se acostumado. Apareceu duas garotas procurando mesa com o garçom a minha frente. O garçom balançou a cabeça em sinal de negativo. Chamei as duas e disse que, se quisessem, podiam sentar-se à mesa. Foi de imediato. Sentaram-se e começamos o bate-papo. Estava com fome, pois até aquele momento não havia jantado, esperando a “dita cuja”. Jantei um pouco e continuei tomando chopp. As duas, uma delas era a empregada da casa da outra. Ela estava toda inibida. A patroa tentava animá-la e depois falou que deu uma vontade de sair e convidou a outra.

Adriana, era seu nome. Da outra, não lembro. Perguntei sobre outros lugares, que podíamos ir. Elas me disseram que estavam de carro mas que iriam para casa. Mas, me deixaria no hotel. As coisas aconteceram assim mesmo, sem nexo…Insisti bastante, para “alongarmos” aquele passeio, mas foi em vão. “Fiquei na mão”.

De volta ao Rio, fiquei encabulado com o acontecido. Como pode acontecer um desencontro daqueles?

Lembra daquele sujeito do refeitório? Pois é, ele havia me dado um cartão de visitas, “business card”. Mandei um e-mail e pedi para perguntar o telefone e e-mail dela. No mesmo dia veio a resposta. Agora com telefone e e-mail dela na mão… Mandei um e-mail, achei que seria um meio menos espalhafatoso e interesseiro. Fiquei a pensar no que escrever no e-mail; naquele dia, me entretive com trabalho e, não tive tempo.

Escrevi no e-mail: Não tivemos sorte…

A resposta: Você não imagina como fiquei preocupada, pois havíamos que combinar de sair a noite. Mas afinal não chegamos a combinar.

Hoje em dia, trocamos e-mail e telefonemas; ligou no meu aniversário! Mas não consegui ainda entender e, não tive coragem de perguntar. Por que ela não tentou encontrar-me naquele dia, já que voltou cedo? Timidez…? Haverá o dia do encontro.