Uma tarde de “cuzinhar” miolos, literalmente escaldante! O asfalto da rua fervia, mostrando borbulhas de piche! Sério! Qual carioca já a isto não viu? A gente suja o piso da casa com o piche. Moro aqui já alguns anos…, vim do sertão… enfim, aqui no verão é quente.

Bom, deixando esse maldito calor de lado, o fato era que eu tinha que ir à Cidade[1] resolver uns probleminhas. Fui comprar umas tintas para eu rabiscar umas telas e quando desci do metrô, na Carioca, dei de cara com dois amigos; um, estava com a cara “amarrada”, o outro calado.

  • Fala Renato! – este tem o mesmo nome que eu.
  • ‘Cê tá meio sorumbático, ou é impressão? – falei pro Renato.
  • O Júlio – era o outro dos três – mete a gente numas furadas. Não foi a Raquel que entregou o bilhete para ele me entregar.
  • Aquela da balada?
  • Era onda, mentira. Pediu pra aquela outra coisa feia escrever… – Disse se referindo a outra amiga não tão desejada.
  • Vamos para a sombra – falei…
  • Hoje o calor tá brabo! – E procuramos abrigo no Avenida Central, na Rio Branco. Eles ainda não tinham almoçado, e resolvemos comer num chinês no subsolo. Gosto de um frango com currie, servido lá.

Sobre a conversa do bilhete.

A mentira, sempre é uma verdade. Ou seja, ela está comprometida com a verdade. Quantas vezes já não mentimos, porque dizia a verdade. Além do mais, alguém poderia retirá-la dos pecados capitais. Muitas vezes somos inquiridos da verdade, ou seja, alguém quer saber se é mentira, querendo saber a verdade. Não simplesmente a mentira. O que interessa é a expressão da verdade, exibindo a mentira. Poderíamos dizer que “nunca minto, mas tampouco digo a verdade[2]”, no sentido em que pretendo dizê-la agora. A verdade ou a mentira? Muitas verdades hoje, já foram mentiras no passado. Algumas pessoas são mentirosas porque se deleitam com a mentira, e outras porque desejam reputação ou ganhos.

[1] Cidade para os cariocas é o centro da cidade do Rio de Janeiro

[2] Tiberius Claudius, último imperador dos Romanos, em sua autobiografia.