Tem pessoas que tem muito medo de coisas abstratas, e aquelas de difícil compreensão viram males ou milagres. Tempos atrás trabalhei com um sujeito que tinha medo de mandingas, e outros males, como se isso existisse de forma concreta a manifestar-se da cabeça aos pés, parecendo mais com aqueles cartazes pregado nos postes da cidade, “trago seu amado em X dias”; todos sabiam do medo do sujeito, mas ficava por aí. Uma vez foi numa cartomante, assombrou-se com o futuro, uma cigana de rua tomou-lhe a mão e leu rapidamente, pronto, era um alvoroço danado, mas tudo isso passava com o tempo.

Certo dia, a turma do trabalho saiu para beber no Bar do Mou, coisa que faziam semanalmente e o sujeito foi meio a reboque, mas compareceu, não curtia muito a baderna e o bullying que todos faziam um com o outro, ganhava o mais gaiato. Lá pelas tantas apareceu o assunto de que o sujeito tinha tais supertições, medos dessa coisa toda… e rolou muita conversa, e eu já exasperado com aquilo tudo resolvi botar lenha na fogueira. Dei uma dica para um sujeito atrevido, que seguiu o “conselho”. Puxamos conversas de vudu, e ouvi um “ui!” disfarçado, ok, nada de agulhas! O sujeito era temeroso do místico desconhecido.

Pois bem, eu não desdigo nada sobre essas ocorrências que nossas mentes são levadas a entender, chegando perto da razão pura, onde aquela ocorrência tem conotações excepcionais, influindo diretamente na concepção do pensar, do senso crítico, na razoabilidade, fenômeno físicos, “poderes ocultos” da auto sugestão, uma espécie de hipnotismo auto induzido, essas coisas aí difícil de entender, que pode ter influências diretas também no próprio corpo.

Havia no grupo um sujeito que dizia ter o pai, um terreiro no quintal de casa. Este, um cara razoável. E brincalhão que só, brinca até com o que não deve. Paaah, este cara vira para o sujeito medroso de mandingas e lasca na cara dele, “vou fazer uma gracinha pra você hoje quando chegar em casa”! Pura galhofagem, falou de boca rota e nos segundos seguintes já esqueceu. Em tempos memoriais, os cultos de algumas religiões africanas tinham lá algumas particularidades dando conotações de que certas práticas seriam direcionadas para operar milagres, e também para fazer o mal.

Estático ficou nosso amigo ao ouvir tal proferimento, perdeu o pouco ar da graça que tinha, e ficou mudo. E logo se foi. Não antes de ouvir o outro completando a frase e gritar “oh, cuidado pra não acordar torto amanhã”! Este, após proferir tais falácias, foi pra casa, já alterado de beberagens, desmaiou na cama e dormiu até o dia seguinte.

Ontem foi quinta-feira, hoje chegou aqui no trabalho nosso amigo temeroso com um tremendo torcicolo.

Até ele próprio aludir sobre a zoação do dia anterior e seu consequente resultado, ninguém lembrava mais, aí começou o racha de opiniões; em seguida chegou o sujeito que proferiu a sentença, e sem saber de nada já foi afirmando de galhorfa novamente, “amanheceu torto, né?”… todos se entreolharam! Ele, nesse momento, também se assustou e foi logo se esvaindo pela tangente, “pohh gente, brincadeira, né?!”; ou coincidência.

Mesmo sem esforço algum, e no absurdo das circunstâncias isso não passa de uma infeliz coincidência. Nem a célebre frase “Yo no creo en brujería, pero qué las hay, hay” deveria ser levado em conta, mas como disse, um racha de opiniões dizia que isso existe sim, que foi mesmo o outro jogando praga e que aquela pegou, agora já diziam que isso aconteceria mesmo sem ele querer, são coisa etéreas, isso e mais aquilo e tals. Eu, vou ficar quietinho.