Desde a publicação de “A divina Comédia” por Dante Alighieri, não se pode mais pensar num Inferno, Purgatório ou Céu diferentes daquele exposto na obra; mesmo sem Virgílio ou Beatriz… O “julgamento” (juízo particular) é feito por nós mesmos. Nesse julgamento, perceberemos aquilo que somos e aparecerá claramente tudo quanto temos feito no caminho do amor-serviço. Esse juízo deve ser apresentado sem disfarces e com toda clareza; cada um de nós perceberá a sua situação real, como eleito ou como condenado, dependendo do acolhimento ou do fechamento por nós mesmos em relação a esse amor de Deus. Acolhimento que se traduz especialmente, no amor-serviço aos marginalizados e excluídos de qualquer tipo (cf. Mt 25,31ss).

O Purgatório é um “estado” de purificação. De fato, pode acontecer que, apesar de sua opção pelo amor, alguém perceba, quando interpelado pelo “juízo”, que está precisando de purificação, de uma libertação e integração maiores, para poder viver plenamente a comunhão com Deus. O importante, é a necessidade de uma purificação para que possamos participar da plenitude da vida. O Inferno é a possibilidade do fechamento trágico em si mesmo; encontra-se incluída na realidade de nossa liberdade, condicionada, mas real. Entretanto, propriamente falando, não é Deus quem condena ao inferno. O inferno é quando o ser humano rejeita toda forma de amor e, diante disso, essa possibilidade real do inferno, as pessoas ficam estarrecidas. Se Deus é amor, como se houve falar com frequência, Ele não pode querer o inferno pra ninguém! mas o ser humano pode rejeitar toda forma de amor. Note-se que o inferno trata-se de uma possibilidade, não se afirma que isso aconteça, de fato. Sabemos sim, que o amor não pode ser imposto pela força… é o fechamento. Essa trágica capacidade de rejeitar o amor constitui o fundamento da possibilidade do inferno.

O Céu é uma promessa de plenitude, expansão total da pessoa em todas as suas dimensões e potencialidades positivas da pessoa. O céu é a comunhão perfeita com Deus e com outros seres humanos, a felicidade perfeita, a presença definitiva e plena de Deus. Céu é a vida eterna (cf. Jo 11, 25-26). De fato só podemos imaginar o que será a plenitude de vida a partir das nossas melhores experiências atuais: experiências de alegria, de paz, de comunhão, de vivência do lúdico… mas com uma novidade e um dinamismo inesgotáveis. Devemos reconhecer que aqui também, faltam palavras para descrever a maravilhosa realidade da salvação na sua plenitude. Tudo aquilo que a gente falar ou imaginar a respeito dessa plenitude, não passa de uma imagem muito pálida do que é o Céu.

(recorte do Trabalho Teologia-PUC, Antropologia Bíblica)